segunda-feira, 26 de julho de 2010

No Fundo

De um passado equidistante
de uma terra tão distante
a saudade que brotou
de pudores vãos e ocultos
de amores tão incultos
do que ficou
olhos fixos na parede
como quem tem tanta sede
do que restou
candelabro sobre a mesa
acende o rastro da tristeza
do que queimou

Atemporal

O tempo circunda
preenche todas as horas
sejam fúteis ou fecundas
o chegar e o ir embora

anos demarcados
como as letras o são no prelo
o anuário, o calendário
o tempo é o paralelo

os dias a vir e a sair
o que importa é o preencher
horas plenas de alegrias
sucedem as horas vazias

sábado, 24 de julho de 2010

Sentidos

Quantos? Só tenho cinco. Som de antena, absorve a cantilena. Procurar no dicionário que jaz empoeirado no armário. Procuro dentro de mim a rima assim:

Procurei
por todas as partes
de todos os meios
em todas as artes
não enconrei

procurei
por todo o tempo
por todas as horas
e mal passei

procurei
por todas as vias
me encontrava vazia
e nada achei

procurei
por todas as águas
eram todas tão rasas
não mergulhei

procurei
minha face num lago
num instante, num rasgo
me avistei

olhei
para dentro de mim
numa imagem assim
mergulhei




Lais Maria Muller Moreira
todos os direitos reservados

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pantomima

Resultado elaborado
que fascina o ser amado
ali logo do outro lado
sente a dor se esvair
Cortes em cortesia
em rumo à profecia
assessora convincente
estertora inconsequente
Longínquas situações
loquazes corações
que se aproximam
por força de um imã
que adere à indagação
Por que assim deveria
estar, se portar
equidistar, reservar?
Por que não poderia
se achegar, desfrutar
arrulhar?
Incessantes apelos
passa as mãos nos cabelos
para respostas
encontrar




Laís Maria Muller Moreira
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Sujeito Oculto

Luares esclarecedores
admoestam o ser oculto
tão culto, só, negligenciado
sobre o muro enviesado
estreita espreita namora
Agora
quando tudo jaz sepultado
sentimento surge, urge
revigorado
Sente o ar exalar
melodias pérfidas
doloridas
que se confundem
com seu habitual
modo de reação
Perturba a solidão
permuta em ilusão
asilado em tal exílio
sente o luar transtornado
num brilho que o ofusca
embotado em delírio
entra em tal estado




Laís Maria Muller Moreira
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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Em Si

O que seria da vida
sem o amparo e a guarida
da letra, do verso, da canção
por certo embotaria
ante a monotonia
do ser só
sem transmissão





Laís Maria Muller Moreira
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Medita

Avisto um olho
a pupila toma o enfoque
guardo o toque e impressão
visto outra dimensão
que me dita
e o dito
recolho






Laís Maria Muller Moreira
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Biscoitos da Sorte

Provérbios chineses
só se descobrem
após haver dado
a mordida
Quem não tenta
fácil perde
o que há de melhor
nesta vida




Laís Maria Muller Moreira
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Mutismo

Avesso às sílabas
roucas anímicas
tais sementes
surgidas das cinzas
cumprindo falso itinerário
não aceita ter
verbo contrário
nem sabe aceitar
ter um não

Trêfego

Lá vai meu caçula
nas asas de um avião
no sorriso ligeiro
leva o abraço fagueiro
que lhe ruma a intuição
realidade sorri
há um mundo à cobrir
num ensejo garoto
sem sossego o maroto
lívido voa
atordoa o que sinto
centra o cinto e zarpoa



Laís Maria Muller Moreira
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Opostos

Ante a candura dos versos
põe-se a tremer um rochedo
força e suavidade
bramem sérios segredos
antagônicos, inversos
agônicos, diversos
força e suavidade
díspares, inversos
força e suavidade
chocam
tocam
à neutralidade